Broken Relationships vai ao Brasil (no Estadão)

Posted on 10 de janeiro de 2013


O Estado de S.Paulo

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Museu Broken Relationships vai ao Brasil

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Intimidade nas relações

O museu Broken Relationships traz ao País, em 2013, seu acervo de objetos afetivos

18 de dezembro de 2012 | 2h 08
THAIS CARAMICO – O Estado de S.Paulo

Quando uma história de amor termina, sobram lembranças e objetos de grande valor emocional. Dar um fim a eles pode ser um processo doloroso. Ou criativo. No caso dos croatas Olinka Vištica e Drazen Grubisic, a dor se transformou em obra de arte, em 2006. Virou coleção itinerante de corações partidos, rodou 25 países nos quatro continentes até ganhar uma casa permanente em Zagreb. Mas isso não foi motivo para o Museum of Broken Relationships deixar de levar histórias de amor por aí. Em 2013, será a vez do Brasil de receber a coleção. “Vamos visitar São Paulo, Rio e Brasília entre março e abril”, diz ao Estado o fundador e curador Drazen Grubisic.

Com cerca de 70 objetos na mala, a ideia é misturar o acervo do museu às histórias locais, relatos e itens fáceis de as pessoas relacionarem, mas que também apresentem diferentes problemas ou comportamentos culturais. Ter o maior leque de emoções é uma característica dos curadores, que resumem as consequências de um término em sentimentos universais: amor, raiva, arrependimento, dó, rejeição. No Brasil, pelo tamanho do país e número de habitantes, a aposta é em histórias inusitadas. “Há pessoas de tudo quando é jeito e temperamento. Então, tenho certeza de que isso será refletido na exposição”, disse.

Foi com o fim do próprio relacionamento que os artistas Drazen e Olinka começaram a pensar sobre o que seria dos presentinhos trocados. Dali surgiu a ideia de coletar os objetos pessoais e expor tudo em emoções. A primeira mostra ocorreu como projeto itinerário. A resposta do público foi tão positiva que eles já começaram a rodar outras cidades. Em quatro anos, já tinham uma sede e vários prêmios. Das 40 peças iniciais, hoje o museu tem no acervo mais de mil, mas só expõe cem que é para o visitante não pular alguma parte. Com cada objeto exposto, uma descrição de onde ele veio, quanto tempo a relação durou e uma história importante, escrita em primeira pessoa por quem doou a peça.

Não há quem não se identifique com o que está ali e talvez isso responda por que o museu se tornou tão popular. Dividido em salas e temas, os depoimentos são tristes, engraçados ou bizarros, mas sempre verdadeiros. É emocionante porque, além de real, todo mundo conhece o sentimento de amar, perder alguém, sofrer, sentir-se só. Estar ali é uma chance de, através da arte, fazer algo com suas lembranças, quem sabe até curar uma dor, uma relação mal resolvida. Assim acreditam os curadores.

Em seis anos, Drazen se diz cada vez mais inspirado pelas histórias, pelas experiências humanas. “Algumas são divertidas, mas outras são pesadas. As pessoas podem achar o museu curioso, mas costumo dizer que ele é uma grande representação da vida, pois ele consegue refletir as pessoas dentro de suas relações mais íntimas, que incluem religiões, diferenças culturais, sociais e econômicas, problemas relacionados a guerras, enfim, tudo que influenciou alguma escolha ou destino.”

Nas salas, o visitante pode rir com a garota que doou o sabonete íntimo do ex-namorado, ridicularizando seus costumes, ou chorar com o cartaz de cinema que foi um dia a melhor surpresa que alguém já teve na vida (dá para sentir que no momento da doação, aquele homem ainda não tinha conseguido esquecer a ex-namorada).

Há casos bem complicados, como o da mulher que era obrigada pelo namorado a usar um peito falso, e o do ex-soldado que doou sua prótese de perna por não aguentar viver com recordações da antiga enfermeira, seu grande amor. No espaço seguinte, uma mulher corajosa abre seu álbum de casamento inteiro, denunciando o ex-marido que a traiu com a amiga da infância. Essa forma de cicatrizar, entender ou expressar algo chegou a um dos institutos psiquiátricos da cidade, que mensalmente leva um grupo de pacientes para conhecer as histórias alheias. “Eles saem relaxados e encorajados a falar dos próprios problemas. Saber que você não está sozinho no barco conforta muita gente”, revela Drazen.

 

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